Famílias afegãs vestem filhas como meninos para evitar vergonha


26/09/2010 
The New York Times
Jenny Nordberg 
Em Cabul (Afeganistão)

Mehran Rafaat é como muitas meninas da cidade. Ela gosta de ser o centro das atenções. Muitas vezes se frustra quando as coisas não saem do jeito dela. Como suas três irmãs mais velhas, fica ansiosa em descobrir o mundo do lado de fora do apartamento da família em seu bairro de classe média em Cabul. 

Contudo, quando sua mãe, a parlamentar Azita Rafaat, veste as crianças para a escola de manhã, há uma diferença importante. As irmãs de Mehran colocam vestidos pretos e lenços no cabelo apertados sobre seus rabos-de-cavalo. Já Mehran coloca calças verdes, camiseta branca e uma gravata, e sua mãe afaga com a mão seu cabelo curto e preto. Depois disso, a filha sai pela porta -como um menino. 

Não há estatísticas sobre quantas meninas se passam por meninos. Mas quando perguntadas, várias gerações de afegãos contam histórias de uma parenta, amiga, vizinha ou colega de trabalho que cresceu vestida de menino. Para aqueles que sabem, essas crianças muitas vezes não são chamadas nem de filha nem de filho nas conversas, mas de "bacha posh", que literalmente significa "vestida como menino", em dari. 

Por meio de dezenas de entrevistas conduzidas em vários meses, nas quais as pessoas preferiram permanecer anônimas ou usar somente seus primeiros nomes com medo de serem identificadas, foi possível acompanhar a prática que permaneceu quase ignorada pelos estrangeiros. Ainda assim, é comum em todos os estratos afegãos, comum às diferentes classes, níveis de educação, etnia ou geografia e perdura apesar de muitas guerras e diferentes governos. 

As famílias têm muitas razões para fingir que suas meninas são meninos, inclusive necessidade econômica, pressão social para terem filhos e, em alguns casos, uma superstição que, ao fazerem isso, promoverão o nascimento de um verdadeiro menino. Na falta de um garoto, os pais decidem criar um, cortando o cabelo de uma filha e vestindo-a com roupas típicas de homens. Não há restrições religiosas ou legais específicas para a prática. Na maior parte dos casos, a volta ao feminino acontece quando a criança entra na puberdade. Os pais quase sempre tomam essa decisão. 

Em uma terra onde os meninos são mais valorizados, já que somente eles podem herdar os bens dos pais e transmitir seu nome, as famílias sem filhos homens são objetos de pena e desdém. Até mesmo um filho inventado aumenta o status da família, ao menos por alguns anos. Um "bacha posh" também pode receber educação com mais facilidade, trabalhar fora de casa e até escoltar suas irmãs em público, liberdades que não são possíveis para as meninas em uma sociedade que segrega estritamente os homens e as mulheres. 

Para alguns, a mudança pode ser desorientadora ou liberadora, deixando as mulheres em um limbo entre os dois sexos. 

"Sei que é muito difícil para vocês entenderem porque uma mãe faz uma coisa dessas coisas com sua filha mais jovem, mas eu preciso dizer que algumas coisas acontecem no Afeganistão que realmente não são imagináveis para vocês do Ocidente", disse Rafaat em inglês imperfeito, em uma de muitas entrevistas durante semanas. 

Pressão para ter um menino 

No dia fatídico em que ela se tornou mãe pela primeira vez -7 de fevereiro de 1999 - Rafaat sabia que tinha fracassado, mas estava exausta demais para falar, tremendo de frio no chão da pequena casa da família na província de Baghis. 

Ela tinha acabado de dar à luz -2 vezes- às irmãs mais velhas de Mehran, Benafsha e Beheshta. A primeira gêmea nasceu depois de quase 72 horas de trabalho de parto, prematura de um mês. A menina pesava apenas 1,2 kg e não respirou a princípio. A irmã nasceu dez minutos depois e também estava inconsciente. 

Quando a sogra começou a chorar, Rafaat sabia que não era de medo das netas não sobreviverem. A idosa estava desapontada.

"Por que estamos recebendo mais meninas na família?", gritava, de acordo com Rafaat. 

Rafaat foi criada em Cabul, onde era ótima aluna, falava seis línguas e nutria sonhos de se tornar médica. Contudo, o pai forçou-a a se tornar a segunda esposa de seu primeiro primo, ela teve que se submeter e se tornar a esposa de um agricultor analfabeto em uma casa rural sem água corrente ou eletricidade, onde a sogra governava e onde ela deveria cuidar das vacas, ovelhas e galinhas. Ela não se saiu bem. 

Os conflitos com a sogra começaram imediatamente, enquanto a nova senhora Rafaat insistia em maior higiene e mais contato com os homens na casa. Ela também pedia que a sogra parasse de bater na primeira mulher do marido com sua bengala. Quando Rafaat finalmente quebrou a bengala em protesto, a senhora exigiu que o filho, Ezatullah, controlasse sua nova mulher. 

Ele o fazia com um bastão de madeira ou um arame. 

"No corpo, no rosto", lembra-se. "Eu tentava detê-lo. Eu pedia que ele parasse. Algumas vezes nem pedia". 

Logo, ela ficou grávida. A família tratou-a ligeiramente melhor quando ela ficou barriguda. 

"Eles esperavam um menino desta vez", explicou. 

A primeira mulher de Ezatullah Rafaat tinha dado à luz a duas filhas, uma das quais morrera ainda criança, e ela não podia mais conceber. Azita Rafaat pariu duas meninas, o dobro do desapontamento. 

Azita Rafaat enfrentou pressão constante para tentar novamente, o que ela fez, em duas outras gestações, quando ela teve mais duas filhas -Mehrangis, hoje com 9, e finalmente Mehran, de 6. 

Quando perguntamos se tinha pensado em deixar o marido, ela reagiu com completa surpresa. 

"Eu pensava em morrer", disse ela. "Mas nunca pensei em divórcio. Se eu tivesse me separado do meu marido, teria pedido meus filhos, e eles não teriam direitos. Não sou de desistir." 

Hoje, ela está em uma posição de poder, ao menos no papel. É uma das 68 mulheres no parlamento de 249 membros da Afeganistão, representando a província de Badghis. O marido dela está desempregado e passa a maior parte de seu tempo em casa. 

"Ele é meu marido do lar", brincou. 

Ela o persuadiu a mudar-se para longe da sogra e ofereceu-se para contribuir para a renda da família, estabelecendo a base para sua vida política. Três anos depois de casada, após a queda do Taleban em 2002, ela começou a se voluntariar para trabalhar com saúde para várias organizações não-governamentais. Hoje ela faz US$ 2.000 (em torno de R$ 3.500) por mês como membro do Parlamento. 

Como política, ela trabalha para melhorar os direitos da mulher e o Estado do direito. Ela concorreu à reeleição no sábado e, com base nas contagens preliminares, está otimista que vai conquistar o segundo mandato. Mas ela só pode concorrer com a permissão explícita do marido, e da segunda vez, ele não foi facilmente persuadido. 

Ele queria tentar ter um filho novamente. Seria difícil combinar a gravidez e outro filho com o trabalho, disse ela -e ela sabia que poderia ter outra menina de qualquer forma. 

Mas a pressão para ter um filho se estendia para além do marido. Era o único assunto que envolvia seus eleitores quando ela visitava suas casas, disse ela. 

"Quando você não tem um filho no Afeganistão, é como se tivesse um buraco enorme em sua vida. Como se você tivesse perdido a coisa mais importante da vida. Todo mundo sente pena de você", explica. 

Como política, também se espera dela que ela seja uma boa esposa e mãe; em vez disso, ela parecia uma mulher fracassada para seus eleitores. As fofocas se espalharam para sua província, e seu marido também foi questionado e passou vergonha, disse ela. 

Em uma tentativa de preservar seu emprego e aplacar seu marido, assim como evitar a ameaça de ele tomar uma terceira mulher, ela propôs que eles fizessem a filha caçula parecer um menino. 

"As pessoas entravam na nossa casa sentindo pena de nós porque não tínhamos um filho", lembra-se. "E as meninas? Não podíamos deixar que saíssem de casa. E se nós transformássemos Mehran em menino, teríamos muito mais liberdade na sociedade para ela. E poderíamos enviá-la para fora para fazer compras e ajudar o pai." 

Nenhuma hesitação 

Juntos, os pais conversaram com a filha mais jovem. Eles fizeram uma proposta sedutora: "Você quer ficar parecendo um menino, se vestir como um menino e fazer coisas mais divertidas como os meninos, como andar de bicicleta, jogar futebol e críquete? E você gostaria de ser como seu pai?" 

Mehran não hesitou em dizer sim. 

Naquela tarde, o pai levou a filha para o barbeiro, onde seu cabelo foi cortado curto. Depois, foram ao bazar, onde ela ganhou roupas novas. Seu primeiro conjunto parecia uma roupa de caubói, disse Rafaat, referindo-se a um par de jeans e uma camisa vermelha com "superstar" escrito nas costas. 

Ela até recebeu um nome novo –chamada originalmente de Manoush, seu nome mudou para Mehran, mais masculino. 

A volta de Mehran à escola -com calças e sem as marias-chiquinhas- aconteceu sem grande reação de seus colegas. Ela ainda tirava uma soneca de tarde com as meninas e mudava roupa em uma sala separada dos meninos. Alguns de seus colegas ainda a chamavam de Manoush, enquanto outras a chamavam de Mehran. Mas ela sempre se apresentava como um menino. 

Khatera Momand, diretora da escola, com menos de um ano no cargo, disse que sempre presumira que Mehran era um menino, até ajudá-la a colocar os pijamas certa tarde. 

"Foi uma surpresa para mim", disse ela. 

Porém, depois que Rafaat ligou para a escola explicou que a família tinha apenas duas meninas , Momand compreendeu perfeitamente. Ela tinha tido uma amiga na academia de professores que se vestia como menino. 

Hoje, os parentes da família e colegas sabem o verdadeiro sexo de Mehran, mas a aparência de um filho diante dos convidados e desconhecidos é suficiente para manter a família funcionando, disse Rafaat. Ao menos por enquanto. 

O pai de Mehran disse que se sentia mais próximo dela do que de suas outras filhas e pensava nela como um filho. 

"Estou muito feliz", disse ele. "Quando as pessoas agora me perguntam, digo que sim, e elas vêem que eu tenho um filho. Então elas ficam quietas, e eu fico quieto."

Tradução: Deborah Weinberg
Fonte: UOL

O que faz de você você?

Mariana Sgarioni e Leandro Narloch

As irmãs iranianas Laleh e Ladan Bijani tinham exatamente os mesmos genes e viveram juntas todas as experiências da vida. Nascidas gêmeas idênticas e siamesas, ligadas pela cabeça, permaneceram 29 anos grudadas. Morreram em 2003, na cirurgia que as separou. Mesmo sabendo dos riscos da operação, elas toparam o desafio só pela oportunidade de viverem separadas. “Somos dois indivíduos completamente distintos que estão grudados um no outro”, disse Ladan em uma entrevista antes da cirurgia. “Temos visões de mundo diferentes, estilos de vida diferentes e pensamos de modo muito diferente sobre os assuntos.” Laleh queria se mudar para Teerã e se tornar jornalista, enquanto Ladan planejava ficar em sua cidade natal e praticar advocacia. Uma era mais graciosa; a outra, mais fechada.

A individualidade humana é um mistério: somos todos diferentes uns dos outros, e isso acontece até mesmo com gêmeas idênticas como Laleh e Ladan, que carregam o mesmo DNA e foram educadas do mesmo jeito. A ciência moderna tenta há séculos explicar a intrincada malha que forma o nosso comportamento. Nessa corrida, há filósofos, psicólogos, neurocientistas, geneticistas e até literatos. No livro Notas do Subterrâneo, o escritor russo Fedor Dostoiévski zomba de quem acredita que “a ciência explicará ao homem que ele nunca teve vontade, nem caprichos e que não passa, em suma, de uma tecla de piano, de um pedal de órgão”.

Dostoiévski mostra que o nosso jeito de ser não é só uma questão de curiosidade pessoal. O que cientistas ou escritores estudam sobre a origem da personalidade geralmente cria novos modos de ver o mundo, códigos morais e sistemas políticos. No século 17, o filósofo inglês John Locke formulou a metáfora da tabula rasa, segundo a qual somos uma espécie de folha em branco que é preenchida no decorrer da vida. O princípio de Locke foi essencial para a criação de pilares da política moderna, como a Declaração dos Direitos Universais do Homem, de 1776, ou o socialismo. Afinal, se todos os homens nascem iguais, então merecem os mesmos direitos e oportunidades. No século 20, o líder comunista chinês Mao Tsé-tung, na tentativa de reformar radicalmente o homem chinês, cita a tábula rasa no seu Livro Vermelho, falando de folhas em que “as personalidades mais novas e mais bonitas podem ser escritas”. Já a idéia oposta à tabula rasa, de que pessoas e etnias nascem mais dotadas que outras, fundamentou projetos de engenharia social e genocídios como o Holocausto judeu.

Nas últimas décadas, o debate ganhou o nome de nature x nurture: no primeiro time, está quem coloca na natureza a raiz da nossa personalidade; no segundo, quem acha que o ambiente é o grande definidor. Hoje, essa polêmica deu lugar a uma cooperação, com os dois lados trabalhando juntos para desvendar a individualidade. Dessa união, estão saindo muitas das respostas novas e mais precisas das principais questões sobre o comportamento humano.

A genética determina o comportamento?

Não. O nosso DNA possibilita e favorece determinados tipos de comportamento, mas não determina nada. “Os genes não restringem a liberdade humana – eles a possibilitam”, diz Matt Ridley, autor do livro O Que Nos Faz Humanos, em um artigo para a revista New Scientist. “A genética não é um destino, não determina o que você vai ser. Ela oferece predisposições. Todos estão sujeitos a influências ambientais que podem, sim, mudar a expressão dos genes e fazer com que eles simplesmente não se manifestem”, diz André Ramos, diretor do Laboratório de Genética do Comportamento da Universidade Federal de Santa Catarina.

Traços de personalidade são idéias, conceitos culturais: dependem dos olhos de outros e da cultura de um lugar e de uma época para aparecerem e ganharem um nome. O que é inteligência, pedofilia, má-educação ou timidez no Brasil pode ganhar nomes bem diferentes no Japão, por exemplo. Por isso, não dá para encontrar a personalidade pura no DNA. Mas a nossa herança genética pode, sim, influenciar o funcionamento do corpo, que, numa cultura ou em outra, resulta em comportamentos diferentes.

Ao nascer, cada ser humano carrega uma composição de 30 mil a 35 mil genes, formações de DNA que ficam ali dentro dos nossos 23 pares de cromossomos. As principais descobertas dos geneticistas do comportamento relacionam os genes à regulação de mecanismos fisiológicos que mudam o comportamento, como impulsividade, vício de determinadas substâncias e memorização. Há indicações, por exemplo, de diferenças genéticas na regulação da dopamina, neurotransmissor relacionado à sensação de prazer. Em algumas pessoas, a cocaína provocaria uma descarga anormal de dopamina, causando vício. “É provável que esse medidor químico sofra uma deficiência natural e, portanto, alguns indivíduos sejam mais suscetíveis a se viciar em cocaína”, dizem os pesquisadores Howard S. Friedman e Miriam W. Schustack, autores de Teorias da Personalidade.

Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria de Londres, divulgada no ano passado, mostra como o comportamento pode ser afetado por uma interação entre genes e ambiente. Ele teve acesso a um estudo que acompanha desde 1972 a saúde física e mental de mais de 1 000 pessoas desde o nascimento. Descobriu que homens maltratados na infância tinham uma probabilidade 10 vezes maior que os demais de cometer crimes violentos desde que, além de terem sofrido maus-tratos, possuíssem pequena atividade da enzima MAOA do cromossomo X, que permite níveis elevados de serotonina. No total, 85% dos homens maltratados na infância e cuja MAOA é pouco ativa exibiram comportamento violento ao longo da vida. Entre os que possuíam a forma muito ativa, os maus-tratos não aumentaram o comportamento violento.

Outro exemplo é o gene FOXP2, no cromossomo 7, isolado recentemente pelo Centro de Genética Humana da Fundação Wellcome, no Reino Unido. Mutações nesse gene causam deficiências específicas de linguagem – ele parece ser necessário para o desenvolvimento da fala. “Ele permite que a mente humana absorva, a partir das experiências vividas na 1ª infância, o aprendizado necessário para falar”, afirma Matt Ridley. Com problemas de fala, é mais fácil para a criança desenvolver traços como a timidez.

A composição genética tem ainda efeitos indiretos, que acabam influenciando até o comportamento dos pais. É que, por mais que digam o contrário, os pais variam a forma de tratamento conforme o filho. Crianças alegres, que sorriem e olham nos olhos dos pais, costumam deixá-los gratos e mais carinhosos. Segundo uma pesquisa de 1994 feita pela Universidade da Pensilvânia, alguns autistas – que não costumam olhar nos olhos ou expressar emoções – têm, por isso, pais indiferentes e um pouco frios. Outro exemplo é a beleza das crianças. Se a composição genética faz uma criança ser considerada bonita, ela terá mais chances de ser o centro da atenção dos pais. E isso influenciará sua personalidade.

Os pais influenciam a personalidade dos filhos?

Sim, mas a influência é imprevisível. Desde os primeiros estudos de Sigmund Freud, e até antes deles, os pais são tidos como os agentes mais importantes na criação de uma pessoa. São os primeiros a conter o que há de animal em nós, nos ensinando a controlar desejos em nome de regras morais, castigos e convenções da civilização. Com essa premissa, Freud foi, ao lado de Darwin, um dos grandes pensadores do século 19 a abalar a idéia de Deus, mostrando que as noções de pecado e culpa são transmitidas pelos pais e podem ser a causa de vários dos nossos problemas. Do conflito entre os nossos desejos e culpas, sairiam traços de personalidade (como a timidez, a vergonha), recalques inconscientes e fraquezas que nos acompanham vida afora. Freud vai mais longe: para ele, o jeito com que meninos e meninas lidam com a figura do pai e da mãe é essencial para definir a sexualidade da pessoa.

Mas as idéias do austríaco fomentaram tantas generalizações grosseiras e técnicas furadas de educação (veja na página 54) que hoje, fora dos círculos de psicanalistas, estão cada vez mais desacreditadas – e o pai da psicanálise é considerado mais um filósofo que propriamente um cientista. O que não quer dizer que ele deva ser descartado.

Até o ponto que a genética permite, um bebê recém-nascido é como um molde de argila flexível. O que ele aprender, ver, ouvir, sentir será armazenado no cérebro e irá compor a maneira como agirá no futuro. Ao nascer, vai demorar meses até conceber idéias básicas, como a de ser distinto das coisas ao redor. Aos poucos, porém, vai se dar conta de que consegue mover algumas dessas coisas – seus braços e pernas – e que outros seres fazem o mesmo. Assim, a partir do outro, o bebê começa a ter a noção de eu, de que é um indivíduo.

Conforme interage com os adultos, a criança se molda ao mundo em que nasceu. Se os adultos ao redor forem lobos ou cavalos, passará a vida toda uivando ou relinchando e bebendo água com a língua, como aconteceu como o “Selvagem de Aveyron”, garoto encontrado na França em 1799 que viveu a infância isolado na floresta e por volta dos 12 anos trotava, farejando e se alimentado de raízes. Ou então as indianas Kamala e Amala, dos anos 20. Acolhidas por lobos quando recém-nascidas, elas andavam de quatro, tinham horror à luz e passavam a noite uivando.

Entre lobos ou humanos, a criança aprende o que pode ou não fazer. Percebe que, ao chorar mais alto, a mamadeira vem mais depressa. Portanto, vale a pena ser manhosa, pelo menos de vez em quando. Quando joga um objeto no chão, é repreendida pela mãe e ganha uma bela bronca. Também começa a diferenciar sentimentos: o que achava ser dor, começa a receber nomes diferentes como “fome”, “ciúme”, “medo”. “As sinapses cerebrais são construídas a partir das relações externas. Sem interação com o outro, não há personalidade”, afirma Benito Damasceno, neurologista e professor de neuropsicologia da Unicamp.

E os “outros” mais importantes dos nossos primeiros anos são os pais. Com eles, exercitamos uma das nossas grandes capacidades inatas: a de imitar. Os pais servem de referência para estabelecermos padrões de sentimentos e atitudes – o filho que imita o pai se barbeando também conhece com ele jeitos de se relacionar com as mulheres, modos de regular o tom de voz e até preferências intelectuais.

Prova disso é um estudo citado no livro Freaknomics, de Steven Levitt e Stephen Dubnere, realizado no ano de 1991 com 20 mil crianças americanas até a 5ª série. O estudo tentou relacionar o desempenho escolar das crianças com o perfil dos pais e a convivência de todos em casa. Descobriu que as boas notas não estão relacionadas àquilo que os pais fazem – se mandam os filhos ler ou lêem para eles antes de dormir –, mas ao que eles são: se têm o hábito de ler para si próprios, se têm livros em casa e se são bem instruídos.

“Nos primeiros anos, o filho se identifica com quem faz o papel de pais e passa muito tempo copiando suas ações”, diz Eloísa Lacerda, fonoaudióloga e psicanalista da PUC-SP especializada na 1ª infância. Talvez se explique assim o caso do filho que passa a infância apanhando e, quando adulto, vira um pai igualmente agressivo. A mesma teoria serviria também para explicar o contrário: o filho que, em alguns pontos, se torna o contrário dos pais. É que eles podem servir de referência de traços aos quais reagimos. Assim os psicólogos explicam a família do casal que passa as noites brigando e tem um filho do jeito oposto – tranqüilo e pacificador.

O problema é que, se explicam muito bem a raiz das motivações de uma pessoa em particular, essas teorias não servem para montar leis gerais da natureza. Vale a regra do “cada caso é um caso”, que nem sempre é comprovada por estatísticas. Além disso, o convívio com os pais é só uma etapa do desenvolvimento. Em casa, a criança cria ferramentas que poderá desenvolver ou não quando passar por outro desafio: a busca para ganhar destaque entre seus iguais.

As amizades influenciam?

Muito mais do que imaginamos. Em 1998, a psicóloga americana Judith Rich Harris causou uma revolução nas teorias da personalidade ao afirmar que o convívio com os pais é só um dos fatores que influenciam a personalidade dos filhos – e um dos menos importantes. No livro Diga-me com Quem Anda..., ela fala que as relações horizontais dos 6 aos 16 anos – da criança com seus pares, o grupo de amigos da escola ou da vizinhança – são o grande definidor da personalidade adulta.

Para fundamentar o que diz, Judith Harris recorre aos 6 milhões de anos de evolução dos humanos. Durante esse tempo, os seres humanos que mais deixaram descendentes foram os que se acostumaram a andar em bando e conseguiram ter uma boa posição dentro dele. Quanto mais valiosos dentro do grupo, mais descendentes geravam. Do grupo dependia a sobrevivência e, depois da morte, a sobrevivência dos descendentes. Essa história evolutiva, para Judith Harris, resultou num cérebro sedento por relações gregárias e classificações que diferenciem um grupo de outro e os membros entre si.

Hoje, essa herança da seleção natural funciona assim: ao se identificar com um pessoal, a criança tende a agir conforme as regras internas daquelas pessoas, tentando encontrar um papel que lhe renda uma boa posição entre os membros. De certa maneira, estaria tentando realizar sua missão na Terra: ganhar a proteção do mesmo sexo, para não ser atacado, e atrair o oposto, para se reproduzir. “A identificação com um grupo, e a aceitação ou rejeição por parte do grupo, é que deixam marcas permanentes na personalidade”, afirma Judith Harris. Para ela, é assim que o gordinho da turma vira o gordinho engraçado: ele usa o humor para conquistar atenção. Assim se explicaria também a garota mais bonita da sala que não se preocupa em desenvolver a inteligência – a beleza já a destaca.

O principal exemplo usado pela psicóloga são os filhos de imigrantes. Apesar da língua, da religião e dos costumes que os pais tentam transmitir, a criança os ignora facilmente quando começa a ter contato com amigos do novo país. Aprende o idioma de uma hora para outra e, em poucos anos, se parece muito mais com os amigos que com os pais.

Outro exemplo é uma pesquisa com panelinhas de estudantes americanos por volta dos 12 anos. O psicólogo Thomas Kindermann descobriu que crianças de um mesmo grupo tinham notas e atitudes parecidas na escola. Se fizer parte de um grupo em que o desempenho escolar é importante, a criança se estimula a ter melhores notas. Se não conseguir, é provável que vá para outra panelinha, dos esportistas, por exemplo, que não consideram as notas uma coisa superlegal.

A teoria de Judith explicaria por que pais normais, que seguiram sempre as regras da boa educação, deparam com um filho criminoso. Talvez nossos avós não estivessem errados ao se preocupar tanto com as más companhias. A teoria também tem uma conseqüência aterradora: de que a educação teria pouquíssimo efeito sobre os filhos. Eles não se tornam o que os pais querem que sejam – mas o que os amigos querem. Se é assim, então como educar os filhos?

O estilo de educação importa?

Pouco. Traços de personalidade dependem de diversos fatores e são dificilmente previsíveis. Por isso, estudantes de um colégio militar não se tornam necessariamente adultos metódicos, e os de um colégio liberal não ficam mais criativos. Também não há comprovação científica de que impor limites rígidos previne que o filho seja um adolescente infrator.

Dizer que o estilo de educação importa pouco na personalidade deve fazer psicopedagogos e professores estremecer. Mas a afirmação pelo menos livra os pais de tanta culpa e responsabilidade pelo destino dos filhos. Notícias de adolescentes de classe média que ateiam fogo a mendigos ou espancam empregadas costumam ver acompanhadas de críticas aos pais. A idéia por trás dessa opinião é que os pais são responsáveis pela personalidade e por todos os atos dos descendentes.

Os primeiros estudiosos a culpar os pais pela educação dos filhos foram os psicólogos behavioristas. Eles adaptaram as idéias de Freud sobre o papel dos pais e criaram sistemas de educação baseados em estímulos e respostas. O psicólogo John Watson, famoso no começo do século 20, chegou a dizer que conseguiria fazer de qualquer criança um médico ou artista de sucesso se pudesse aplicar na “cobaia” um sistema contínuo de estímulos e respostas. De pensadores como Watson, veio a idéia, comum hoje em dia, de que uma personalidade bem formada é resultado de uma educação de recompensas e punições.

Essa idéia embala centenas de livros com fórmulas mágicas para transformar crianças em adultos simpáticos, bonitos, bem-sucedidos e livres das drogas. E resulta em pais que se sentem despreparados para criar filhos bem formados. Mas não é preciso ser perfeito para ter filhos, sobretudo porque, como você viu acima, os pais não determinam o destino das crianças e a influência deles é imprevisível. Muitos dos adolescentes que engravidam cedo se afundam em drogas ou espancam empregadas receberam a mesma educação de jovens que andam na linha – às vezes, os próprios irmãos. Casos assim mostram que seres humanos não são robôs que podem ser programados pelos pais ou por pedagogos.

É importante, porém, não confundir pouca influência com nenhuma influência. “Muitos pais hoje em dia acham que devem agir como amigos. Mas a autoridade e a hierarquia precisam existir, para que se transmita o que é certo ou errado”, diz Eloísa Lacerda, da PUC-SP. Também é bom que os pais fiquem atentos ao relacionamento do filho com os amigos – se ele for sempre a vítima do grupo, sempre humilhado pelos colegas, talvez seja o caso de trocar de escola ou incentivá-lo a se relacionar com outras crianças. “Ao morar num bairro e não em outro, os pais podem aumentar ou diminuir o risco de que os filhos venham a cometer crimes, sejam expulsos da escola, usem drogas ou engravidem”, afirma Judith Harris em Diga-me com Quem Anda...

Por que os irmãos são tão diferentes?

Ninguém sabe exatamente. As irmãs siamesas Ladan e Laleh, do começo desta reportagem, são um exemplo de que nem o ambiente nem a biologia conseguem explicar completamente a personalidade. O caso delas mostra que o lar é um fator importante para fazer irmãos se diferenciar entre si. Uma pesquisa da Universidade de Minnesota descobriu que gêmeos idênticos são mais parecidos quando criados em ambientes separados. Você já deve ter ouvido histórias de gêmeos separados no nascimento que se reencontram 40 anos depois e descobrem que ambos compraram carros azuis, adoram feijoada e jogam xadrez muito bem. Longe um do outro, eles seguiram iguais.

Muita gente explica a personalidade de alguém pela ordem de nascimento ou pela diferença de idade entre os irmãos. O senso comum diz que os primôgenitos são mais independentes; os do meio, rebeldes; os temporões, precoces. O historiador Frank Sulloway, da Universidade da Califórnia, tem estudos nessa linha. Ele analisou a ordem de nascimento de mais de 6 mil personalidades mundiais e concluiu que os filhos mais velhos são mais conservadores, já os mais novos são os criativos e revolucionários – é 18 vezes mais fácil achar um revolucionário caçula que um primogênito.

A pesquisa de Sulloway mostra só um padrão de comportamento (ele não propõe uma lei da natureza), mas contribui para o que se chama de Teoria dos Nichos, tese mais aceita para explicar a diferença entre irmãos. Em casa, a criança procura desempenhar um papel diferente dos irmãos mais velhos. Se um irmão se destaca como esportista, ela pode se apegar mais aos livros. Se um é mais apegado à mãe, a filha do meio pode ser mais independente.

Steven Pinker, psicólogo evolucionista e professor da Universidade Harvard, acredita que a variação de personalidade se resume numa palavra: acaso. “Falo de acasos como um bebê que cai de cabeça no chão sem querer, um vírus que ele pega, um pensamento que deixe uma impressão permanente. Esses fatores podem ter uma influência tão grande no que somos quanto os genes, uma influência muito maior do que os pais”, afirma ele no livro Tábula Rasa.

É possível mudar nosso jeito de ser?

Sim. Na verdade, mudamos nossa personalidade a toda hora. Agimos de modos diferentes com pessoas de idade, sexo ou posição social diferentes. Você já deve ter passado pela sensação de ser amigável e inteligente com alguém que o deixa confortável e agir do modo contrário com quem o desafia. Além disso, a nossa personalidade depende do que os outros acham: você pode ser chato para uma pessoa, mas gente boa ou confiável para quem o conhece melhor. “O homem tem tantos eus quantos são os indivíduos que o reconhecem”, disse em 1890 o psicólogo William James, um dos primeiros a estudar a personalidade.

Mas é claro que há comportamentos e atitudes que são muito difíceis de largar. Somente 10% das pessoas com pontes de safena mudam hábitos alimentares e deixam o sedentarismo. As outras acabam morrendo de ataque cardía¬co simplesmente porque não conseguem mudar. Muitas vezes um pai que bate na mulher e nos filhos promete a si mesmo parar com as agressões, mas não consegue. Talvez os genes favoreçam o comportamento impulsivo – e não é nada fácil ir contra a própria composição genética. Ou então, olhando pelo lado da psicologia, somos tão arraigados à referência dos nossos pais e às experiências da infância que esses traços viram nossa identidade. Se é assim, fica difícil até perceber o próprio modo de ser.

Mesmo assim, dá para mudar. “Não existe nenhuma pesquisa científica que mostre que o ser humano não tem jeito”, diz Mariângela Gentil Savoia, psicóloga do Hospital das Clínicas de São Paulo. De ter consciência de si próprio, um traço bem arraigado à personalidade, atribuir a ele uma causa, vencer derrotismos e apegos, vão anos, se não uma vida toda. Mas talvez o caminho de nos conhecer, mudar o que for possível e nos contentar com o que somos seja o grande desafio da vida.

O gordinho engraçado

Este tipo comum é um bom exemplo da teoria da americana Judith Harris, para quem a relação entre os iguais é o fator que mais influencia a personalidade. Entre os vizinhos e os amigos da escola, a criança busca um jeito de receber atenção e ganhar destaque. Se não é o mais bonito ou o mais forte do grupo, conquista o carinho de todos de outro jeito: contando piadas.

A bonita e burra

A moça que nasce mais bonita que a média pode ter mais carinho dos pais (que tratam, sim, cada filho de forma diferente) e ser facilmente aceita entre os amigos. Mas essa herança pode ter um lado ruim: atraindo a atenção pela beleza, ela talvez não desenvolva artimanhas para se destacar, correndo o risco de ficar vazia e desinteressante.

Tímido e inteligente

Por que algumas pessoas são abertas e sociáveis enquanto outras são quietas e tímidas? Uma explicação é o jeito com que nossos pais nos ensinam os sentimentos. O rapaz inteligente e introvertido pode ter aprendido com o pai a ser frio e distante.

Gêmeas e diferentes

Gêmeos idênticos têm exatamente o mesmo DNA e foram educados de forma parecida. Então por que são tão diferentes? A explicação mais aceita é a Teoria dos Nichos: disputando a atenção dos pais, os irmãos adotam papéis diversos. Um serve de referência do contrário para o outro.

O médico altruísta

Para a psicanálise tradicional, tentamos repetir na vida adulta as experiências da infância. Imagine um garoto que nasceu pouco antes de o pai morrer e que, por isso, foi admirado como uma compensação pela mãe e pelos avós. Ao escolher a profissão, ele pode ter gostado da idéia de ser admirado – como um médico que faz tudo pelos pacientes.


Para saber mais:

Tábula Rasa, Steven Pinker, Companhia das Letras, 2004.

Diga-me com Quem Anda..., Judith Rich Harris, Objetiva, 1998.

Não Há Dois Iguais, Judith Rich Harris, Globo, 2007.

Teorias da Personalidade, Howard S. Friedman e Miriam W. Schustack, Prentice-Hall, 2004.


Fonte: Superinteressante, jan. 2008 – Ed. 248.

O Haiti e o 'estado de natureza' hobbesiano


Cientistas políticos comparam situação política no Haiti ao 'estado de natureza'
Para sobreviver, população recorre a saques e disputa por comida.
Especialistas explicam a situação pela ótica de Thomas Hobbes.

Fernanda Calgaro Do G1, em São Paulo*

Haitianos disputam bolsa com suprimentos em Porto Príncipe
(Foto: Ap/Xinhua, David de la Paz)

Brigas nas filas de distribuição de alimentos por entidades humanitárias, canos de abastecimento da cidade cortados para ter acesso à água e saques a supermercados em ruínas são cenas comuns nos últimos dias em Porto Príncipe, capital do Haiti, devastada por dois terremotos. A situação do país e a reação de seus habitantes, que, na luta pela sobrevivência, acabam ferindo princípios morais e éticos, compõem o que o pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679) chamou de “estado de natureza”.

Veja aqui a cobertura completa sobre o terremoto no Haiti

O estado de natureza é a ausência total de regras. É quase uma anomia, quando não existe o estado. As pessoas acabam agindo dessa maneira, racionalmente, como uma maneira de se autopreservar”, explica Rogério Arantes, professor de ciências políticas da USP. “O país acaba mergulhado num clima de insegurança, por causa do medo das outras pessoas. Numa situação como essa, as atitudes ficam imprevisíveis.”

Loja destruída por terremoto é saqueada na capital do Haiti
(Foto: AP Photo/Gerald Herbert)

Segundo ele, o “estado de natureza” puro, com a completa inexistência de ordem, nunca existiu. “É uma ideia hipotética, mas há duas situações reais em que um país se aproxima dele: 1) guerra civil, em que não existe um organismo no país que monopolize a força física para conseguir valer as leis; e 2) no caso de guerra entre os estados no plano internacional, a chamada ‘guerra de todos contra todos’, em que os estados agem na lógica da autopreservação.” Na visão do professor da USP, o caso do Haiti não chega a ser “estado de natureza”, porque há organismos internacionais agindo.

 

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Reconstrução do país 

O cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da PUC-SP e da FGV, é da mesma opinião. Ele explica que, antes do terremoto, já havia a atuação de forças internacionais de paz no país para criar condições para a reconstrução do Haiti, após anos de guerra civil. “No entanto, com o terremoto, desorganização tão profunda das relações sociais que estavam sendo estabelecidas, houve um retrocesso ao estágio anterior, que se assemelha ao estado de natureza.”

Na falta de um poder central capaz de dizer o que é lícito e ilícito e punir as eventuais transgressões de um modo a manter a ordem, o que existe é uma situação em que todos tentam resolver os seus problemas de acordo com o que a sua força permite, o que acaba resultado na conflagração generalizada entre as pessoas.”

Há aqueles que, por desespero ou oportunismo, vêem essa situação em que não há uma fonte de ordem estabelecida, usam os seus recursos próprios para fazer aquilo que lhes é mais conveniente.” Couto cita como exemplo o caso dos presos que fugiram de uma prisão que desabou com o terremoto e voltaram para uma favela que é o centro da criminalidade e instauraram a sua própria ordem.

Entenda o que é o "estado de natureza"

É quando há a ausência do estado e, portanto de regras ou de quem as fiscalize, e as pessoas para garantir a sua sobrevivência agem muitas vezes desrespeitando a moral. Um dos principais pensadores é Thomas Hobbes.


Sugestões de leitura:

1) "Leviatã", de Thomas Hobbes
2) "À Paz Perpétua", de Immanuel Kant

Fontes: Rogério Arantes, professor de ciências políticas da USP; Cláudio Gonçalves Couto, professor da PUC-SP e da FGV

Uma visão diferente

De acordo com o professor de teoria política da Unesp, em Marília, Paulo Ribeiro da Cunha, na interpretação de outro pensador, John Locke, que sucede Hobbes, os homens não vivem necessariamente em conflito no "estado de natureza".

"Locke contrapõe o que dizia Hobbes. Para Hobbes, em estado de natureza não existia sociedade porque o homem sempre foi individualista e vivia em conflito. Já para Locke, os homens sempre viveram em sociedade. Para fudamentar sua interpretação, Locke usa o exemplo dos indígenas, que, segundo ele, são sociedades em estado de natureza e vivem harmoniosamente", diz o professor.

Foi devido à evolução - com o surgimento do dinheiro e competição entre os homens, por exemplo -, que surgiu um estágio que Locke chama de "estado de guerra". Para sair desse estágio há o salto que resulta na construção do estado.

Foto: Ap Photo/The Miami Herald, Patrick Farrell

Crianças se apertam em fila para receber comida nos arredores de Porto Príncipe
(Foto: Ap Photo/The Miami Herald, Patrick Farrell)



*Colaborou Érica Polo, Do G1, em São Paulo